18 de fev. de 2008

"Rio 40 graus"

Por Carlos Klimick


Ricardo caminhava com Cíntia pela praia, despreocupado, curtindo seu bronzeado. Do alto de seus 1,90m e corpo definido, se achava o máximo. Ele tinha boa situação financeira, um emprego estável e um pai com grana. Cíntia era sua atual namorada, não que fosse a única - aos 21 anos de idade estava no auge da forma e queria aproveitar. Era uma desculpa, pois achava que jamais seria fiel, mas servia para o momento. Ricardo era um canalha e sabia disso, mas...tudo bem. A mulherada se amarra num canalha. Era domingo pela manhã, 'tá bom, meio-dia, mas no domingo até duas da tarde era "de manhã". Ele estava fazendo a social, curtindo ver as mulheres e ser visto por elas. Depois viria o almoço com a família de Cíntia, mais uma social e sair para zoar...sozinho, claro!


Cíntia parou para apreciar umas peças de artesanato que uma moça estava vendendo. Às vezes Cíntia era um saco! Já tinha parado para beber água de coco, para tomar sorvete, para fofocar com amigas, mas tinha ficado impaciente quando Ricardo parou para tomar uma inocente cervejinha com os amigos. Resolveu não se aborrecer e olhar. Ricardo não achou o artesanato grande coisa, mas a artesã.... Ela não era muito bonita, morena de estatura mediana e longos cabelos escuros, mas tinha, sei lá, um carisma, um ar assim meio selvagem. Sentiu-se atraído, seu membro começou a exercitar seu direito de se manifestar. Ele a devorou com os olhos. A moça pareceu perceber seu olhar, ela ergueu a cabeça, olhou para Cíntia, depois para ele, sustentou seu olhar e depois sorriu. Ricardo também sorriu pensando: - Ganhei. Ele fez uma boa compra, exibindo seu dinheiro, o que deixou Cíntia feliz, ele feliz e a artesã feliz. Despediu-se e seguiu seu caminho com Cíntia.


O resto do dia foi interminável, com as frescuras de Cíntia, o almoço com os pais de Cíntia, o papo de Cíntia, a cara da Cíntia, quando finalmente foi embora deixou escapar um suspiro de alívio. Quando entrou no carro, já sabia aonde queria ir. A artesã tinha ficado em seus pensamentos a tarde toda. Ela parecia meio maluquete e provavelmente toparia coisas que a bobona da Cíntia jamais toparia. Excitado, ligou o carro e partiu a toda.
Chegou na praia pouco antes do pôr-do-sol. Encontrou a artesã já guardando suas coisas. Parou o carro em frente e buzinou para ela. A moça, pois devia ter por volta dos vinte anos, franziu o cenho e se aproximou. Ele baixou a janela, ela o reconheceu e sorriu. Não estava surpresa, devia estar esperando por ele. Ótimo, gostava de ingênuas, mas também gostava de safadas. Hoje estava a fim de uma cachorra. Ela entrou no carro e ele a levou pra comer algo num trailler ali perto. O papo foi bom, olhares, toques, sorrisos, ele mal se conseguia se conter. Ele praticamente via através da blusa e da saia dela. O colarzinho, a roupinha meio "hippie". Ricardo podia sentir que ela também o desejava, a menina o estava devorando com os olhos. Saíram de carro para uma praia deserta, sugestão dela.


A praia realmente estava deserta. Ricardo estacionou junto a areia e por ele os dois transariam ali mesmo. Mas, a moça sugeriu um banho de mar. Os dois saíram do carro e correram para o oceano. Ele a devorava com os olhos enquanto ela se despia, ela sorriu para ele com um olhar guloso. Entraram na água, que estava fria, mas isso nem de longe diminuiu o entusiasmo de Ricardo. Ela nadou um pouco, ele a seguiu e parou aonde ainda dava pé. Ela voltou e o circulou nadando. Depois, veio em sua direção e o abraçou, enroscando suas pernas ao redor da cintura dele. Ela fez movimentos ritmados, roçando-se nele, mas sem se permitir penetrar. Ricardo foi ficando cada vez mais excitado. Ela murmurou algo: - Meu nome é Tarântula... Ricardo mal ouviu, ele a beijava no pescoço, corria suas mãos pelo corpo dela, tentava dar um jeito de penetrá-la. Ela o beijou no pescoço e...DOR! Uma dor forte no pescoço o paralisou, o abraço dela se tornou firme e suas pernas o apertaram com força na cintura. Ele se sentiu tonto e usou de toda força para afastar o rosto dela do seu pescoço. Ela recuou a cabeça, ele passou a mão pelo pescoço e sentiu um líquido quente e viscoso. Mesmo a luz da lua, percebeu o que era: sangue. Seu sangue! Ela havia arrancado um pedaço do seu pescoço e estava sangrando muito. Sentiu as pernas fraquejarem. Olhou para o rosto dela, os olhos estavam estranhos, ela sorriu e mostrou uma série de dentes afiados como navalhas. Ele tentou gritar, mas ela avançou sobre ele, suas pernas falharam e Ricardo afundou no mar. Sob a luz da lua, o sangue espalhou-se lentamente pelo mar, sendo levado pelas ondas.


REDE MUNDIAL DE NOTÍCIAS:

Rio de Janeiro. Hoje à tarde foi encontrado na praia do Grumari o corpo do jovem estudante de Direito Ricardo Silva Pereira. O rapaz foi encontrado semidevorado, sendo opinião dos peritos que a morte foi causada pelo ataque de um tubarão. A namorada do rapaz, Cíntia, diz que Ricardo gostava de às vezes nadar no mar à noite para relaxar. Seus amigos dizem que ele um rapaz de boa índole, trabalhador e que evitava problemas, sendo muito querido por todos. O enterro será no Cemitério do Caju, amanhã as 14horas.

4 comentários:

  1. Otimo conto mesmo!!!

    Varias sacadas e um final bem legal ( digo da parte do Garoto querido por todos...rs )

    Parabens

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  2. muito bom o conto
    da pra acreditar que é quase real

    http://vintefaces.wordpress.com/

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  3. Realmente o climick foi muito feliz nesse conto...

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  4. O legal nesse conto é que ele é ambientado em um dos melhores RPGs do Brasil: Era do caos.

    Pena que o sistema e a ambientação ficaram perdidas no tempo. Bem que o sistema poderia voltar a ativa e, de preferência, como OGL.

    Até mais

    Fabrício "Tisahu" Luna

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